sábado, 29 de dezembro de 2007

Sonhos


Sonhos...
Dizem que sonhar faz bem, eu constato que faz mal.

Viver em mundos fantasmagóricos com pitadas de realidade...

Parar, imóvel, rodeada de atitudes que detesto das pessoas que gosto...
Fazer figuras ridículas em lugares que não existem com pessoas que conheço, mas que não fazem sentido ali estar.
Ver morrer pessoas ou ver cair-te os dentes todos ao espelho...
Acordar e pensar que devia estar bem-disposta, que um sonho não devia incomodar o dia...

Lembrar-me que a sociedade tem a mania de interpretar e legendar tudo...

Por vezes divagar durante mais um bocado de tempo se aquilo poderá acontecer, mas depressa punir-me ainda mais por pensar isso...
O melhor mesmo é fazer de conta que é tudo lindo e maravilhoso.

Que quando me deitar vou sonhar com um massajador olímpico numa maca de algodão a fazer-me cócegas nos pontos específicos dos pés que conectam directamente com o bem-estar de todos os órgãos e acordar feliz!

quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

Contradição


Palavras que soam como furacões.

Gritos em alta entoação mas vazios de emoção.


Gestos de desatino e loucura.


Olhos que nem se tocam.

Expressões fugidias de compreensão.


Desejo irreal inesperado.


Sensações de contradição.


Suores validos,...

pensamentos em deglutinação.

terça-feira, 18 de dezembro de 2007

Sol


Como um raio de sol.

Apenas um.

Dividido de todos os outros e dirigido apenas a mim.

Foi isso o que senti quando me deste a primeira montra de ti.

Agora aguardo, calmamente, que apetreches a minha com a tua luz.

Assim como quem cuida sem querer, sem intenção mas por amor.

Assim como quem só se apercebe depois...

do tamanho gigantesco do sol que vai alimentando.

quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

Tempo de Partilha


Neva lá fora e há granizo cá dentro.

Os ponteiros do relógio já estão presos pelo tempo e mal funcionam. Atrasam todas as semanas 17 minutos e existem semanas que nem mexo neles.

Se fosse a gerir esse tempo que sobra, acho que não faria nada diferente.

Sou assim, quando tenho oportunidades nunca sei aproveitá-las por mais que tente, e de noite todas elas me beliscam a sério. Todas as "santas" noites.

O cobertor que tenho nas pernas já desfiou o que conseguiu e eu deixei. É como nós, vai até onde nos deixam ir...

A árvore de Natal já não avisto há 3 anos. Morreu queimada quando incendiou a raiva que tenho pelo egoísmo deste "tempo de partilha". "Homem que é homem alimenta os pobres NO NATAL"!

A TV só passa "Natais nos Hospitais" e "Tardes da Júlia" reforçadas com bolas de natal e choro para não variar.

Já se faz tarde, não sei ao certo quão, mas vou deixar-me ser beliscada um bocadinho para descansar.


terça-feira, 11 de dezembro de 2007

Até Amanhã


A almofada acorda-te a roer o pescoço.
Uma dose de moleza numa manhã que arrota de tráfego.
Vais devagar quando devias ir a planar e mal chegas ao trabalho acompanhas o passar de todos os minutos, no lado inferior direito do monitor, até às 12h30.

Almoças sozinho na tasca rasca e mais familiar para ti, de maneira a não parecer que estás sozinho, mesmo estando, e sabes que as pessoas novas lá vão todas pensar isso.

Aniquilas o fumo do cigarro na zona do lado direito onde está a senhora que se mostra sempre incomodada, mas que todos os dias faz questão de tocar a sineta para te lembrar isso.

Voltas para o trabalho e para variar desta vez tentas só olhar para o relógio do telemóvel porque custa sempre menos a passar o tempo, e aproveitas para ver se eventualmente terás algum contacto meu.

Chegas a casa e aqueces um "Sparguetti à Carbonara" daqueles que comíamos juntos quando a vontade de nos termos superava a vontade de comermos.

Vês os "Prós e Contras" e adormeces no sofá.

Acordas já as galinhas estão a preparar o almoço e procuras a cama com um olho aberto e outro fechado.

No caminho lembras-te do telemóvel para pôr a despertar (ou para me procurar).
Não tens nada meu mas também não fazes por isso.
Sabes que nunca terás e desistes de pensar nisso...mas só até amanhã.

segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

Porquê?


Porque é que a minha voz falhou quando apareceste?

Porque é que as minhas mãos gelaram quando nos olhámos?

Porque é que mesmo sem te confrontar, queria-te?

Porque é que o nosso longe ficou perto?

Porque é que tem que ser assim?


Tu aí e eu aqui...

domingo, 9 de dezembro de 2007

Não Acaba


Uma luz que se apaga
Um sono não concretizado
Um acto irreflectido
Onde a noite não acaba.

O sol que nasce
Uma toalha no chão
Um sentimento perdido
Uma noite em vão.

Um rasgo de ti
Uma lembrança apagada
Um dilema infinito
Neste dia que nunca acaba.

quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

Menina


Era uma vez uma menina.

Essa menina vivia num mundo que é feito de flores por baixo, estrelas por cima e nuvens de lado a proteger.


Para ela não existia nada que pudesse entrar mal pelos ouvidos e destruir órgãos internos.


Um relâmpago chegou e rebentou-lhe os tímpanos e uns poucos desses.


Numa manhã, cresceu.


Acordou no mundo das pessoas. Nunca foi tão infeliz como se tivesse continuado no outro planeta.


E não viveu feliz para sempre.


segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

Vazio


Era um daqueles dias que a manhã começou de tarde e o cansaço de tanto sonhar já se tinha levantado.

O cheiro a fritos e a mesa abastada do pequeno-almoço não estavam na cozinha como nas novelas que mal tentam parecer reais.

O estômago também recusou logo essa imagem para minha felicidade.

Era um daqueles dias porque tanto ansiava por não ter nada na agenda e agora que realmente apareceu essa página, só me apetecia passá-la à frente.

Um fato de treino para não variar, o cabelo apanhado e lá vou eu ainda sem saber para onde mas com gasolina que chegue para ir e voltar.

As rodas da frente viram sem eu rodar o volante e fui parar a um sítio antigo para mim, onde só moram árvores e água.

Fumo um cigarro a pensar no medo que apareça alguém e não consiga fazer inversão de marcha por ser tão estreito. Mas em vez de me precaver, o banco inclina-se ligeiramente e as pálpebras fecham por si.

O lugar ao meu lado passou a ser ocupado por alguém que não sei especificar.

A respiração era incerta e o nervosismo acusava maior que o meu.

O toque era tão subtil que só tocava a parte de cima dos pêlos agora bem levantados.

O cheiro era pesado, parecia que tinha pó. Esse pó pousava na pele debaixo da roupa e ela reagia com hipersensibilidade...

Os olhos levantam as pálpebras a custo, ligo o carro e volto para casa.

Não houve almoço nem jantar mas sinto-me a abarrotar.

Deito-me e durmo sobre a inquietação da próxima página em branco.

domingo, 2 de dezembro de 2007

Não Chega Ninguém




Palpita-me o sono.


As faíscas do teu pensamento ainda não me deixam adormecer.


Raciocínios desvairados quebram a minha noite de introspecção.


Estremeço com um ruído que confundo com o teu rodar de chaves mas...não chega ninguém.


O candeeiro baixa a luz sem eu pedir e a televisão está ligada para a mosca que não me larga há duas noites. Merda!


Até os lençóis sentem a falta dos teus ácaros, dos teus bocadinhos de pele morta, dos teus cabelos que caem...muitos deles arrancados por mim...


Um motor a trabalhar lá em baixo. Ou é o teu ou o do vizinho da frente. A esta hora...não chega ninguém.


Um grilo! O último que ouvi morava no Gerês. Na noite curta, na tal noite que te senti mais dono de mim do que eu já alguma vez fui...


Mas agora não. Nada disso!


A auto-suficiência já mora comigo e vai ficar pelo menos até amanhã de manhã.


E mal acorde vou buscar alguém para mudar todas as fechaduras para que, mesmo que espere, não chegue ninguém.

Agora Não


O telefone toca.

A minha cabeça salta desamparada da almofada e o resto do corpo não quer acompanhar o valente despertar.

Pego o auscultador e não se ouve ninguém como de todas as outras vezes, como em todos os outros hóteis sem estrelas a que fui.

A minha perna ainda colada à tua tem o primeiro sobressaltar e afasta-se vagarosamente de ti.

Quero o teu suor, que tanto me deu ontem, bem longe de mim.

Não é nojo, é circunstância.

Levanto-me sem dar espaço para contactos matinais.

Agora Não.

O chuveiro não regula bem a temperatura e as minhas ideias estão pouco melhores. Opto pelo quente-a-escaldar.

Destapo o vidro embaciado e vejo-me hoje pela primeira vez.

Magra e com gotas por fora, podre e louca por dentro.

A porta abre-se e por momentos pensei que pudesses não ser tu.

Agora Não.

Reajo fingindo ter a pressa que não tenho e acabo de me vestir na cama de molas relaxadas que, mesmo assim, vingou-me um leve dormitar.

Sinto o fumo do cigarro. Espero que o pouses e saias daí para tirar umas passas sem que vejas.

Voltas para o quarto e fazes ecoar canções que aleijam a alma de tão cruas.

Agora Não.

Apresso a pressa uma vez mais. Espero-te lá fora.

Finalmente meto a marcha atrás e "destaciono" com destino à primeira rotunda.

Ouço-te dançar enquanto falas e a minha cabeça não apanha nem um passo que deste. Não me faças abrir a boca.

Agora Não.

Deixo-te em casa quando queria deixar-te apenas. Perder-me de ti como uma criança do norte se perde na capital enquanto o pai se distrai com a miúda de 15 anos que passa a 3 metros de si.

Apetece-me vomitar.

Chego a casa. Quem me dera que fosse minha. Nunca terei uma assim. Nunca terei nada assim.

Passa-me a má disposição mal avisto o "bacalhau com natas" que morreu só para ser comido.

Não sei há quanto tempo morreu mas dizem que o sal conserva tudo. Aliás nem sei como ainda não inventaram "banhos de sal". Afinal, com isto, acho que vou ser rica e ter uma casa como esta.

Penso na comida morta que está à minha frente mas lembro-me que só os seres vegetarianos e seus derivados pensam assim e desisto do pensamento.

Prefiro ser podre mas por outros motivos.

O telemóvel toca.

Desta vez não é vez de despertar e não atendo.

Agora Não.

Descanso, sim, na varanda a saborear o sol pouco amarelo e o vento de cheiro azul de hoje.

Fecho os olhos. Imagino, agora, seres tu o menino que o pai perdeu embriagado com os corpos verdes-brancos engarrafados que passam à sua frente. Mas acho que não perdia nada.

Os dias tocam sem perdão mas o telemóvel não. Fugiste de vez e nem sequer um fio de ti quis agarrar.

O telefone toca.

Ainda só passou uma noite. Longa mas uma. Agarro-me ao teu suor e não o quero mais largar.

Agora Não.

Viragem


Últimos retoques na touca.

Passo o corpo pela água gelada que tenta disfarçar a sujidade de quem não se cuida.

Caminho até à borda da piscina.

Olho a água que se move com as vibrações inquietas de quem lá está.

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Relembro a inquietação que me sustem: não te poder ver mas desejar-te ter.

2 passos, 1 mergulho. Fundo, intenso e determinado.

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Relembro a determinação do dia em que te deixei.

Deixar-te? Nunca! (Ainda te ouço). Talvez conhecer novos corpos, novos rostos, novos mutantes que não iriam, concerteza, fazer de "nós" cinzas.

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Venho à tona e ensaio o meu "bruços" no desejo de não me cansar.

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Relembro o cansaço no final das noites que se entrelaçavam em manhãs e que se cravavam nos nossos corpos até ao seguinte anoitecer.

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Prolongo a pernada e grito. Submersa. Até se esgotar o folêgo, até se esgotar a raiva, até te esgotar a ti.

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25 metros. Viragem.

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Relembro a viragem da minha triste vida quando parti de ti. Foi de triste ao caos deprimente, pronto, a casos "multi-formo-deprimentes".

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Mais umas braçadas na ausência da força que move tudo (será que move?).

De volta ao bloco de partida quando chegas.

Mergulhas sobre mim. Meia-volta e sorris na "coincidência".

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Relembro a coincidência que é estarmos destinados sem acreditarmos em destinos.

Relembro a coincidência que é desejarmos um rebento por "nós" carimbado, tendo nós pavor a esses seres.

Relembro a coincidência que é amarmo-nos tanto sem nenhum de nós se fiar nesse animal.


Relembro e sinto, agora sim que o jogo terminou, a tua língua ansiosa, percorrer o meu corpo submerso num dos muitos fluidos que nos juntou.

Luzes Intermitentes




























U
m dia, num lugar, contaste-me que o coracão é uma casa com muitos andares e muitos compartimentos. Uns apagados, uns iluminados. Lembras-te?
Agora sei que estavas num com uma lâmpada de baixo consumo. Ela fundiu, passado uns anos, e eu não quis trocar nem tocar mais no teu compartimento.

-Porquê?
-Tu nunca me perguntas porquês!!!

(Pausa)

- Acho que tinha a casa com luzes intermitentes. Os medos que tinhas e me contaste tarde demais, realizaram-se...

Agora e aqui:

A chuva cai em tempo de compasso, as sombras das gotas reflectidas no volante acendem a nostalgia do quarto que partilhávamos em casas diferentes.

- Será que em tua casa o meu quarto ainda tem luz???
- Será que quando me ves, a luz sobe de intensidade e apagam-se as outras luzes???

Acabou de passar uma pessoa. 1 olhar, 2 olhares, 1 camisola branca com capuz e umas mãos jovens.


- Será que estas mãos fazem tremer alguém???

- Será que em casa de alguem haverá um quarto só dele???


Olho novamente as gotas. Olho o teu quarto e ainda lá está. Apagado pelas luzes intermitentes de outrora. Umas vão, umas ficam.

O teu ainda lá esta, guardo o recheio intacto, não mexi em nada.

No teu andar existem mais quartos mas mais nenhum dele foi habitado.


Saio do carro, olho o céu, a chuva molha-me o pensamento aleatóriamente. Molha-me o lugar onde te encontravas pelo menos na hora que antecede o meu deitar.
Depois deste tempo que conhecemos, no teu quarto, a tua lâmpada fez curto-circuito pela primeira vez...

- Será que quando me ves, a luz sobe de intensidade e apagam-se as outras luzes???