quinta-feira, 7 de agosto de 2008

A Menina Que Nunca Saia De Casa


Quando ela vinha à janela já todos a esperavam.

Todos sabiam os seus passos, as suas rotinas, os seus horários.

Ninguém conhecia o seu aspecto de perto.

Ninguém sabia a sua idade.

Ninguém percebia o seu sustento.

Todos sabiam quem ela era.

A menina que nunca saiu de casa.

Mas ninguém sabia explicar e todos queriam descobrir porquê.

Como se fossem ganhar uma taça ou uma recompensa por isso.

Gritavam-lhe ameaças se não aparecesse.

Prometeram até chamar a televisão.

Chegou uma altura que nem dormia.

De hora de hora, ou menos que isso, tocavam-lhe à campaínha.

Passaram-se dias e dias e ela não se aproximava da janela.

Os polícias vieram e depois de muito baterem à porta, arrombaram-na.

Procuraram todos os cantos dessa enorme casa onde morava.

Cheia de nada.

Nem um fio de cabelo, nem um pêlo.

A menina tinha evaporado.

A menina passou a assombrar todos aqueles que a enervaram.

Esses morreram, os outros sobreviveram com um medo assolapado.