sábado, 9 de fevereiro de 2008

Demónio


Dentro da aldeia todos lhe chamavam "Demónio".
Um rapaz de olhos negros, cabelo seco quase gretado, mãos escuras de lixo e boa disposição sem causa aparente.
Todos os dias saía às 7h e voltava às 19h.
Ninguém sabia para onde ia durante esse tempo e ninguém nunca se preocupou em saber.
Morava numa cabana feita de madeira quase desfeita mas nenhuma frincha trespassava para o interior.
Ninguém sabia como vivia e nunca ninguém se preocupou em saber.
Quando o bom tempo ameaçou a aldeia, todos tinham o hábito de tomar a primeira refeição do dia do lado de fora das casas.
O Demónio passou a fazer o mesmo dias e dias a fio até que um menino deu pela presença dele e sentava-se a seu lado sem falar.
Quando batiam as 7h lá ia ele de caminho incerto pela estrada principal.
Outros dias correram e num igual aos outros o menino que não falava resolveu segui-lo.
Depois da encosta havia um rio onde ele tomou banho e lavou as roupas, na mão um saco com uma muda de roupa nunca vista pelo menino, cara, da boa.
Mais 1h50 em caminho principal e chegou à cidade.
Entrou num edifício novo, grande, com muitos vidros e o menino contou 6h até o Demónio voltar a sair.
Caminho inverso, muda de roupa velha, já seca e de volta a aldeia.
O menino nunca falou.
Ninguém sabia para onde ele ia durante esse tempo e alguém se preocupou em saber.