Quando ela vinha à janela já todos a esperavam.
Todos sabiam os seus passos, as suas rotinas, os seus horários.
Ninguém conhecia o seu aspecto de perto.
Ninguém sabia a sua idade.
Ninguém percebia o seu sustento.
Todos sabiam quem ela era.
A menina que nunca saiu de casa.
Mas ninguém sabia explicar e todos queriam descobrir porquê.
Como se fossem ganhar uma taça ou uma recompensa por isso.
Gritavam-lhe ameaças se não aparecesse.
Prometeram até chamar a televisão.
Chegou uma altura que nem dormia.
De hora de hora, ou menos que isso, tocavam-lhe à campaínha.
Passaram-se dias e dias e ela não se aproximava da janela.
Os polícias vieram e depois de muito baterem à porta, arrombaram-na.
Procuraram todos os cantos dessa enorme casa onde morava.
Cheia de nada.
Nem um fio de cabelo, nem um pêlo.
A menina tinha evaporado.
A menina passou a assombrar todos aqueles que a enervaram.
Esses morreram, os outros sobreviveram com um medo assolapado.
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