terça-feira, 7 de outubro de 2008

O Senhor


Era um senhor. Um Doutor que gostava de ser senhor.

Um dia, acordou com um aperto no braço, quase igual ao do medidor de tensão arterial quando já não dá para apertar mais, quando o extremo dá sinal de vida, ou seja, nos sufoca de morte.

Acordou e não sabia onde estava nem quem era e não foi por momentos mas sim por minutos que estagnaram.

Pensou que tivesse mesmo morrido depois de tantos pensamentos a flutuar que lhe entupiam a sobriedade que nunca o deixava ficar.

Estava num quarto de hotel que a empresa disponibilizou para os dois dias de férias depois de trinta e seis anos de trabalho sem respirar um dia que fosse. Um dia. Que infeliz seria...

Acordou pela segunda vez e já era o senhor. Refez as malas quase nem desfeitas e esperou no aeroporto pelo primeiro avião para casa. Para casa e para o trabalho. Sem eles não sabia viver.

Foi assim a história do senhor que apenas precisava de um dia como os de sempre. Era feliz sem respirar e quando havia ar só para ele, morria.


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