quinta-feira, 2 de abril de 2009

KamaSutra Divino


Ele é comerciante. Ela é costureira.
Ele é filho de um homem durão que comia a empregada onde os filhos comiam e a mulher limpava.
Que não se importava com olhos alheios porque afinal estava apaixonado por aquele buraquinho que ainda não tinha espelido filhos. Que afinal era com ela que queria casar. Que afinal espancava a esposa quando esta se emborcava depois de assistir pormenorizadamente a uma sessão de sexo desenfreado em que nunca participava.

Anos passaram, todos se cansaram e os dois amantes lá casaram.
Ele e os irmãos viram morrer a mãe de cirrose. Pequenos e sem dinheiro ficaram. Lá corriam na meta da vida, sozinhos e sem testemunhos para passar.

Ela é uma menina adoptada. Impingida numa adopção forçada à madrasta, conseguida através do prazer fétido do pai com uma qualquer prostituta.
Que afinal a esposa era atrofiada das trompas. Que afinal a esposa lá a foi criando com sopinhas de ciúmes mudos e papinhas enraivecidas em constante cicatrização.

Ela nunca quis conhecer o sangue da mãe barriga-de-aluguer e se pudesse fazia uma transfusão total de sangue da madrasta que, por sua vez, não dava o seu sangue por ela.
Ele nunca mais quis identificar o sangue do pai que milhentas vezes enchia a barriga da amante de abortos consecutivos.

Ele e ela conheceram-se numa idade bonita e na altura devida se casaram.
Deram o primeiro beijo na boca na noite de núpcias e sem travo a álcool.
Programaram o dia da concepção do rebento através das técnicas naturais e das contas da quarta classe, sem erros, tirando a provas dos nove quando ele nasceu precisamente no dia planeado, na data de casamento deles.
Sempre que se tentavam amar sem intenção de procriação, não se tocavam nem se rendiam ao prazer, seguindo sempre as páginas do Kamasutra Divino.

Pessoas que nunca falharam a nada nem a ninguém.
Pessoas que sempre viveram acorrentadas ao sangue que recusaram pertencer.
Pessoas que sempre viveram com o fardo da vergonha dos progenitores, que nunca a tiveram.
Pessoas que hoje dormem em quartos separados e já festejaram cinquenta anos de casados.

4 comentários:

ZicKroft disse...

Antes de comentar o Post; sim, não é bonito trocar o género de uma pessoa, ainda assim estás desculpada; Toda a gente diz que o estágio foi claramente o pior ano profissional da sua vida, quanto a mim resta-me esperar para saber.

Quanto ao Post, esta´bom de mais, tens uma escrita tipo, tipo, tipo fantástica.

Beijo *
(em breve farei outro post sobre o estágio, dá uma olhada a ver se te identificas)

Anónimo disse...

Ele e ela deviam experimentar o Kamasutra Clássico... lol

beijo*
Corto

Tari disse...

Zikroft:

Obrigada pelo elogio e claro que te farei uma visita assim que postares ;)

Beijinhos**


Corto:

Querias tu dizer que deviam ter experimentado porque com esta idade nem com comprimido deve ir lá, já vai das mentalidades...;)

Beijo amigo**

Anónimo disse...

ler todo o blog, muito bom