terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Corte Sem Costuras


Do princípio de uma grande confusão surgiu a nossa atriz principal. Daquelas que estão guardadas propositadamente ou por falta de dinheiro para entrarem a meio do filme. A mais aguardada, a que dá mesmo o nome ao dito. Daquelas que esperamos com paciência de leão porque sabemos que nem que apareça no velório dentro do caixão a tentar não respirar para não se notar, vai fazer valer o filme.
Chega ela, no seu sapato estilo
vintage entre o rosa morto e o rosa deslavado, com meias rendadas brancas e uma saia travada que em cada passo que dava, alcançava milímetros de avanço no chão.
Diziam que era Taróloga mas que a leitura das mãos era a sua especialidade.
Sentada na cozinha de uma antiga casa de campo, lia a mão à atriz secundária da grande confusão. Daquelas que não se aguardam mas que são necessárias. A melhor mas que ainda não sabemos porque mal aparecem queremos logo que desapareçam porque são as rivais da atriz principal. Daquelas que deviam ir directas ao caixão sem respirar nem receber o bónus.
A leitura desta mão denunciava maus tratos na infância e uns três traumas bem acentuados em cima da linha do coração.
Um tiro sem pólvora, portanto.

Nesta mão ainda se lia que não era gasta pela terra porque tinha falanges de uma série de empregadas. E a roupa condizia com a mão. Não chegava, no entanto, à alta costura porque a costureira que se ocupava dela era uma senhora baixinha.

Seguiu-se a tão aguardada troca de marido no filme, desencadeada de mais um trauma a bordar na mão da nossa atriz secundária que deixou a principal alinhavar o seu macho a ela.

A bruxa má virou boa e a boa má.

Num cá tu lá de artimanhas e artifícios hollywodescos, quando a nossa atriz secundária, agora boa, se vinga da secundária, agora má, cozendo o macho a ela a ponto de cruz...eis que surge o vilão do destino.
Um acidente frontal rodoviário que duplica a velocidade que transporta a boa vezes a velocidade
que transporta a má e as duas morrem que nem duas princesas Dianas.
Um tiro com pólvora, portanto.

Apareceram as duas no velório a respirar mas a fingir que não respiravam dentro do caixão que transporta a boa mais o caixão que transporta a má.

E posto isto, o actor principal, o macho, coseu-se com fortes acabamentos à costureira, a mão de fada. Daquelas que nem que gostemos muito do filme e o recomendemos a uma ou outra pessoa, não tentaremos nunca descobrir o seu nome verdadeiro porque nos passa perfeitamente ao lado.

1 comentário:

ZicKroft disse...

Invejo-te: 1º por seres de educação física e andares na rua nos dias de sol. 2º porque escreves desta maneira. Go ahead *