Lá dentro havia seda, havia algodão e havia linho.
Lá dentro havia ouro, havia prata e havia platina.
Lá dentro havia riso, havia sorriso e havia felicidade.
Lá dentro havia tudo de espectacular e tu não passavas perto da porta.
Nem sequer rodeavas, nem sequer uma ponta de curiosidade e eu roía-me só de magicar como tal seria possível.
Tudo o que toda a gente desejou, em todos os tempos, estava ali. E tu aqui, sem mexeres nenhuma parte de ti.
A explicação estava contigo e mais ninguém. Eras o único da aldeia que nunca tinha sequer espreitado a casa de magia. E não era uma magia qualquer, dessas que são inventadas e nos tapam os olhos, era uma magia real e única.
Estudiosos davam voltas ao que tinham e não tinham para descobrir tal fenómeno mas todos os estudos foram inconcluídos por escassez de dados concretos.
Pedi-te uma vez que fosses lá comigo e, sem resposta, desapareceste durante três semanas.
Pedi-te outra vez que me levasses só a espreitar, com a desculpa do medo e, sem resposta, desapareceste durante três meses.
Perguntei-te, então, se a tal casa teria sido obra tua e, sem resposta, desapareceste durante três anos.
Esta rotina matou-me e os teus afastamentos apunhalaram-me já cadáver.
Já passou um ano desde a tua última aproximação, que recusei, e hoje não sei nada sobre ti. Também fugi. Mas nem a campaínha nem o telefone me contaram mais nada. E eu, cadavér, continuo aqui. Ninguém me leva para a morgue para me fazerem festinhas com o bisturi...
Enquanto espero ou te espero, vou dormir mais um sono de morte.
(Serei, pelo menos, a tua Bela Adormecida?)