Quando era pequenina tinha ganho um concurso.
Não daqueles concursos de televisão nem passatempos de casa infantis, ganhou um que ultrapassava todos esses e lhe deu o melhor prémio possível. Não Nintendos nem Castelos de Barbies.
O concurso parecia simples.
Encostada a uma cama de hospital com Febre Aftosa em estado avançado, sem defesas e à porta da morte, tinha que aguentar não chorar para ganhar aos outros meninos na mesma situação.
Esteve 21 dias internada e ganhou a todos que entravam, que saiam e que morriam.
No final a equipa que a tratou perguntou-lhe como tinha conseguido, além do milagre da vida, o carrego da dor.
Ela, tímida, sorriu e perguntou o que tinha ganho. Ao que o médico, ditador do concurso, lhe respondeu: "Ganhaste a vida".
Ela, imediatamente, entrou em pranto, sem perceber porque o médico a tinha enganado. Tanto esforço...para nada.
"O que é a vida? Eu não posso brincar com a vida nem às vidas... Quero um brinquedo!".
Por mais que lhe tentassem explicar, só mais pranto lhe conseguiam arrancar.
Depois de deixar o hospital, quando as empregadas foram fazer as camas de lavado, deram com o colchão todo desfeito, por baixo do lençol intacto que camuflou o sofrimento mudo e em vão daquela estranha criança.
A partir desse dia, a criança chorava todas as noites, gritava, esperneava, batia nela própria e sofria de ataques de ansiedade constantes. Um deles foi tão forte que foi parar novamente ao hospital porque tinha sofrido uma queda bastante aparatosa.
O médico que a atendeu foi o mesmo que a tratou e ela, sem que ninguém prevesse, desatou aos murros e pontapés contra o pobre médico com toda a raiva que a movia.
Levaram-na para a ala psiquiátrica infantil. Lá permaneceu 5 meses. Ao final desses meses, sem qualquer tipo de melhoras, deram-lhe alta, receitando-lhe, no entanto, umas consultas de apoio psicológico semanais, até perfazer mais meia dúzia de meses.
O psicólogo que lhe dava as consultas domiciliárias, resolveu voltar a juntá-la ao médico para perceber a sua reacção e se tinha havido melhoras.
Ela, estática, fingiu que ele não estava lá, mesmo quando ele pegou na cabeça dela à força, obrigando-a a olhar nos olhos. Ela apenas os revirou, qual monstro em estado embrionário.
O médico mandou bom-bons pelo psicólogo. Ela deitou-os ao chão e calcou-os um a um. Com muita calma, já curada da raiva.
Os psicólogos rodavam em frustração, alguns até recusaram imediatamente o caso dela que se constava maligno em todo o hospital.
A menina entrou na escola mas não aprendia nada e ficou 3 anos retida. Esteve até um ano inteiro com uma professora de ensino especial e não mostrava ponta de motivação e desenvolvimento.
Desistiram da miúda que tinha há muito desistido dela própria.
Quando se tornou mulherzinha, interessou-se por um dos milhentos psicológos que a aturavam e partiu logo para a acção. O coitado, estagiário, já assustado com aquele horrível quadro, empurrou-a com a sua força de leão. Ela cai desamparada no chão, bate com a fonte numa esquina da mesa da sala, abre-a e de volta ao hospital. De volta ao mesmo médico que a atende.
Ela parecia bem mas passou uma noite em observações. Observada pelo médico que já tinha a hora de saída expirada e continuava lá ao alto. Quando acordou, de manhãzinha, olhou nos olhos dele e ele pediu-lhe desculpa.
Ela saiu daquele hospital aparentemente curada.
Estudou afincadamente o ensino básico e secundário, ganhou menções honrosas e acabou por escolher o curso de enfermagem. Entrou naquele hospital, na ala pediátrica.
Quando reparava em algum caso parecido com o seu, contava a sua história e conseguia que as crianças tivessem a força que ela teve, sem esperarem nada em troca.
Era a enfermeira que todos os meninos queriam ao lado na dor e ela já os anestesiava de cor.
Não daqueles concursos de televisão nem passatempos de casa infantis, ganhou um que ultrapassava todos esses e lhe deu o melhor prémio possível. Não Nintendos nem Castelos de Barbies.
O concurso parecia simples.
Encostada a uma cama de hospital com Febre Aftosa em estado avançado, sem defesas e à porta da morte, tinha que aguentar não chorar para ganhar aos outros meninos na mesma situação.
Esteve 21 dias internada e ganhou a todos que entravam, que saiam e que morriam.
No final a equipa que a tratou perguntou-lhe como tinha conseguido, além do milagre da vida, o carrego da dor.
Ela, tímida, sorriu e perguntou o que tinha ganho. Ao que o médico, ditador do concurso, lhe respondeu: "Ganhaste a vida".
Ela, imediatamente, entrou em pranto, sem perceber porque o médico a tinha enganado. Tanto esforço...para nada.
"O que é a vida? Eu não posso brincar com a vida nem às vidas... Quero um brinquedo!".
Por mais que lhe tentassem explicar, só mais pranto lhe conseguiam arrancar.
Depois de deixar o hospital, quando as empregadas foram fazer as camas de lavado, deram com o colchão todo desfeito, por baixo do lençol intacto que camuflou o sofrimento mudo e em vão daquela estranha criança.
A partir desse dia, a criança chorava todas as noites, gritava, esperneava, batia nela própria e sofria de ataques de ansiedade constantes. Um deles foi tão forte que foi parar novamente ao hospital porque tinha sofrido uma queda bastante aparatosa.
O médico que a atendeu foi o mesmo que a tratou e ela, sem que ninguém prevesse, desatou aos murros e pontapés contra o pobre médico com toda a raiva que a movia.
Levaram-na para a ala psiquiátrica infantil. Lá permaneceu 5 meses. Ao final desses meses, sem qualquer tipo de melhoras, deram-lhe alta, receitando-lhe, no entanto, umas consultas de apoio psicológico semanais, até perfazer mais meia dúzia de meses.
O psicólogo que lhe dava as consultas domiciliárias, resolveu voltar a juntá-la ao médico para perceber a sua reacção e se tinha havido melhoras.
Ela, estática, fingiu que ele não estava lá, mesmo quando ele pegou na cabeça dela à força, obrigando-a a olhar nos olhos. Ela apenas os revirou, qual monstro em estado embrionário.
O médico mandou bom-bons pelo psicólogo. Ela deitou-os ao chão e calcou-os um a um. Com muita calma, já curada da raiva.
Os psicólogos rodavam em frustração, alguns até recusaram imediatamente o caso dela que se constava maligno em todo o hospital.
A menina entrou na escola mas não aprendia nada e ficou 3 anos retida. Esteve até um ano inteiro com uma professora de ensino especial e não mostrava ponta de motivação e desenvolvimento.
Desistiram da miúda que tinha há muito desistido dela própria.
Quando se tornou mulherzinha, interessou-se por um dos milhentos psicológos que a aturavam e partiu logo para a acção. O coitado, estagiário, já assustado com aquele horrível quadro, empurrou-a com a sua força de leão. Ela cai desamparada no chão, bate com a fonte numa esquina da mesa da sala, abre-a e de volta ao hospital. De volta ao mesmo médico que a atende.
Ela parecia bem mas passou uma noite em observações. Observada pelo médico que já tinha a hora de saída expirada e continuava lá ao alto. Quando acordou, de manhãzinha, olhou nos olhos dele e ele pediu-lhe desculpa.
Ela saiu daquele hospital aparentemente curada.
Estudou afincadamente o ensino básico e secundário, ganhou menções honrosas e acabou por escolher o curso de enfermagem. Entrou naquele hospital, na ala pediátrica.
Quando reparava em algum caso parecido com o seu, contava a sua história e conseguia que as crianças tivessem a força que ela teve, sem esperarem nada em troca.
Era a enfermeira que todos os meninos queriam ao lado na dor e ela já os anestesiava de cor.