terça-feira, 28 de abril de 2009

Last Movie


Estava deitada na cadeira do meu jardim quando me levaram para longe de casa.
Olhos adormecidos e cabeça fechada lá fui eu sem dar por nada.
Dizem que no caminho tossi muito e toda a gente se afastou.
E eu lembro-me de te ver, fazias-me mal. Muito mal. Estavas num divã e dominavas, sério de tanto prazer e delirado por eu estar a ver. E eu não respirava. Olhava de fora como se de um filme pornográfico se tratasse, completamente estarrecida com a certeza deste actor não estar a ser pago e ser muito mais bem servido.
Saíste de cima dela e vieste ao meu encontro. Gritei mais do que consegui fugir, chamei-te os nomes que me lembrei que detestavas e escrevi no guião o desaparecimento total da minha personagem.
Mais do que não te querer ver, sabia que jamais me poderias voltar a tocar. E não era por desconhecer que todos somos capazes de seguir vontades intrínsecas com seres extrínsecos. Era por me teres obrigado a assistir à tal união desconhecida de um ser tão meu conhecido.
Podia perfeitamente estar eu ali no teu lugar, satisfazendo-me com outro objecto humano mas nunca faria questão de to mostrar porque eu antecedo sempre cada pormenor teu. Mas tu, burro de todo o tamanho, nem pensaste no após e muito menos em nós.
E durante toda esta imagem eu não respirei.
Ouvi-te chorar ao longe como um pai que assiste ao parto do filho já morto, que julgava ver vivo.
Eu tinha morrido sem saber o motivo e ninguém conhecia este argumento que dentro de mim ecoava e que nunca tinha nem teria acontecido.
E tu estavas agora deitado no chão, onde dormiste comigo o primeiro sono da minha morte, pregado aos tacos com furos no coração.

5 comentários:

Woody disse...

Gostei muito do teu comentário no meu blog :)

Escusado será dizer que acho o teu blog das melhores coisas que há para aí...

beijinhos

Info-excluído@pessoa disse...

Viva, gostei muitoa desta.

Espanta Sono disse...

"E tu estavas agora deitado no chão, onde dormiste comigo o primeiro sono da minha morte, pregado aos tacos com furos no coração." Gostei muito, muito desta frase.
Beijinho :)

Tari disse...

Woody:

Ainda bem que gostaste ;)

Também não precisas de exagerar quanto ao meu mas sabe bem ler, ai isso sabe :)

Sim, parece que é de família, agora só falta a Maria Miguel ter o seu Blog e nós já de vista cansada, com rugas e pêlo na benta mas sempre aqui para a lermos :P

Beijinhos primo**


Info-excluído:

Andaste desaparecido!!!
Muito obrigada, vê se apareces mais vezes para um brinde ;)


Espanta Sono:

Espero que tenhas gostado do texto no geral mas obrigada pelo elogio quanto à frase final.

Beijinhos e volta sempre**

Anónimo disse...

Muito bom, sempre essencial e sempre aberto às mais variadas interpretações.

bj* Corto