domingo, 7 de dezembro de 2008

A Íris


A Íris era novinha. A Íris era novinha e muito sonhadora. A Íris deixou de sonhar quando descobriu que tinha uma doença terminal.

Havia pouco a ser feito mas era necessário iniciar rapidamente os tratamentos convencionais de combate ao cancro que a Íris recusou terminantemente.

Ela acreditava que era obrigada a seguir o seu destino e se ele queria ser curto, só tinha que lhe dar o braço a torcer.

Todos se revoltaram contra ela mas nada nem ninguém mudou o rumo da sua fatalidade.

A família arrasada e destroçada afastou-se e os amigos incompreendidos eram só dois, mas pelo mesmo motivo, já faziam frete nas esporádicas visitas.

Ela piorava a olhos vistos e não sonhou um único dia em ter a salvação no seu campo de visão.

Numa última tentativa dos pais, um médico-terapeuta foi lá casa.

Depois de muito conversarem e de não tocarem sequer no assunto minucioso, a Íris num tom bastante efusivo disse-lhe que aceitava ser tratada.

A roleta de tratamentos e viagens não parava de rodar, o cansaço e a má disposição tinham vindo para ficar mas a sua crença irrefectida desvaneceu e morreu.

Agarrou-se à vida como uma lapa sem deixar nunca que a tentassem afastar da rocha-mãe.

A Íris está agora curada e casada com o médico-terapeuta que conseguiu multiplicar o seu destino por muitos e muitos anos de felicidade.

6 comentários:

Anónimo disse...

Final (?) feliz... ;)

Corto Maltese

Anónimo disse...

O dificil é perceber e aceitar de que há sempre alguém capaz de nos ajudar e tornar tudo num final feliz...
Ainda bem que o médico apareceu no caminho da Íris!
Ainda bem que a Íris se entregou ao médico! ;)

Anónimo disse...

As pessoas são mesmo assim.
Não são só assim, mas também são assim.
Vivem entre a resignação do nada e a alegria do ser, que se vão destilando noite e dia nesse curioso alambique da alma (o Jorge Palma tinha uma canção mais ou menos assim).
Não sei se foste tocada por algum caso real (nem é isso que está em causa) ou se resolveste mudar um pouco o estilo por razões de 'experimentação literária' (eu, como não tenho estilo mesmo nenhum vou escrevendo conforme toca o vento), mas este está mais sóbrio, mais seco (e acaba bem! Como se estava à espera do contrário, há um efeito de ... (não sei!), mas dá para aproveitar isso com bons resultados). Mas não quer dizer que este esteja pior do que os outros (e só li 4 ou 5, mas hei-de voltar, porque em termos de escrita-mesmo, ficção e tal, acho que ainda não encontrei nenhum blog comparável a este; OK, ou vamos ter problemas?)
Só mais duas coisas:
-vai destilando ora um estilo (mais subjectivo, onírico, coiso) ora outro (já disse), ou uma mistura (a possível) dos dois, tu é que sabes, mas continua;
- não é o touro que é chinês, mas sim o toureiro.
Mas é na boa.
Tá-se bem.

Tari disse...

Corto Maltese:

Sim, que tenha sabido bem para variar.

Saudades amigo**



Professor Doutor Karamba:

Em situações menos drásticas devia ser linear perceber e aceitar isso.



Info-excluído:

Percebo que tenhas notado o registo diferente mas tem tudo a ver com o estado de espírito, apeteceu-me escrever como tu: "conforme toca o vento",no entanto, o facto de não encontrares mais nenhum blog parecido com este só me serve de elogio. Pode ser mau mas ao menos é original :P

Passa cá sempre que quiseres, és muito bem recebido e agradecido.

Obrigada pelo conselho da destilação e desculpa a parte do toureiro, não tinha de facto intenção de lhe chamar nomes e foi puro lapso.

Beijinhos**

Woody disse...

A Íris estava a ser um bocado burrinha... Ainda bem que ganhou juízo :p

Tari disse...

Woody:

Um bocado a favor. Mas há muita gente assim, que prefere aceitar o destino por não acreditar na possível cura.

Há piores, hoje a minha mãe contou-me uma dos programas magníficos da manhã, em que o marido de uma senhora foi alertar as pessoas para não acreditarem mais em cartomantes. Isto porque foi detectado um cancro nos rins à mulher e os médicos queriam operá-la de urgência. Ela primeiro foi à cartomante saber como devia fazer ao que ela "viu" que se fosse operada a mulher morria. Já imaginas o que aconteceu... Seguiu e conselho e passados poucos meses morreu.

Como é possível? Primeiro a situação e depois o facto de acharem que é preciso alertar a população. É mesmo triste saber que existem profissões assim e mais triste ainda é perceber que o povinho é mesmo ceguinho.

É como tu dizes, que murroalho!!!

Beijocas**